Viver é tomar partido

Memórias

Anita Leocadia Prestes

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Viver é tomar partido
  • autor: Anita Leocadia Prestes
edição:
1
selo:
Boitempo
idioma:
Portuguese
páginas:
376
formato:
16cm x 23cm x 2cm
peso:
642 Gramas
encadernação:
Brochura
ISBN:
9788575597286

Em "Viver é tomar partido: memórias", Anita Leocadia Prestes narra sua extraordinária trajetória de vida, militância e pensamento. Autora de mais de uma dezena de livros sobre a história do comunismo no Brasil e no mundo, passando pela vida de seus pais – objeto de suas publicações mais recentes, "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro" (Boitempo, 2015) e "Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo" (Boitempo, 2017) –, a historiadora lança agora esse relato memorialístico em que momentos importantes da história mundial são mesclados à narrativa de suas vivências pessoais. Nessa obra, Anita registra as impressões dos episódios que marcaram sua vida, explorando acontecimentos pouco divulgados pelos meios de comunicação, na expectativa de que sejam experiências úteis para as novas gerações. Os onze capítulos que compõem o livro acompanham o percurso da filha de presos políticos nascida num campo de concentração da Alemanha nazista, sua libertação, a infância junto da avó, costurado sobre o pano de fundo da história do século XX. A ascensão e a queda do governo Vargas, os diversos fechamentos do PCB, a prisão de seus pais, a execução de sua mãe pelo governo Hitler, golpes e anistias são feitos tecido de uma vida de militância, que nunca hesitou em declarar seu caráter partidário, comunista. O texto articula com rigor e delicadeza objetividade histórica e estratégias subjetivas de sobrevivência e luta, representando ao mesmo tempo preciosa fonte historiográfica e de inspiração militante. No anexo, cartas inéditas, poemas e trechos de jornais contextualizam o relato em meio a fatos. O título "Viver é tomar partido", frase do poeta e dramaturgo alemão Christian Friedrich Hebbel retomada pelo intelectual italiano Antonio Gramsci, resume o modo peculiar como a autora encara sua vida, totalmente imbricada em seu ativismo político.

Trecho do livro

Apesar da separação, não fui uma criança triste nem infeliz. Minha avó sempre se referia à alegria contagiante da neta. Embora longe dos meus pais, cresci cercada do carinho deles, que me chegava através das cartas, da dedicação de Leocadia e Lygia e da atenção, amizade e cuidados de numerosas pessoas de diversas nacionalidades.

A partir de junho de 1941, com o ataque hitlerista à União Soviética, lembro-me bem da angústia da minha avó, preocupada com a violência da invasão do território soviético pelos nazistas e, certamente, com o destino das filhas e do netinho que viviam em Moscou. Imediatamente foi pendurado numa parede da nossa casa um grande mapa do cenário da guerra, em que os movimentos das tropas (tanto soviéticas quanto hitleristas) eram indicados com alfinetes de cabeças coloridas. Leocadia e Lygia acompanhavam essa movimentação torcendo, evidentemente, pelos soviéticos. Mesmo durante os períodos de maiores dificuldades para o exército soviético, minha avó se mantinha confiante em sua vitória final, afirmando aos amigos e companheiros que nos visitavam: “Eu conheço aquele povo e sei que vencerão a guerra.” Escreveu ela a meu pai:
 
"Eu, por mim, procuro reagir contra o desânimo, que muitas vezes vejo empolgar certa gente menos firme, quando os jornais, sempre ávidos de notícias retumbantes, exageram os fatos da Guerra. Muitas vezes discuto com essas pessoas que querem convencer-me de que tudo está perdido e que o nazismo governará o mundo."
 
Lamentavelmente, minha avó faleceu antes da vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial.